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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Leite. Ter ou não ter. Eis a (não) questão




A falta de leite....
Todas as mulheres têm leite? Claro que não! 
Existem mulheres que nao têm insulina, que nao enxergam, que nao podem caminhar, como não existe mulheres sem leite?
A glândula mamária é um órgao mas, pode sofrer doenças, o mesmo que o coracão ou os rins, que podem funcionar mal ou deixar de funcionar.
O que nao acho possível é que existam tantas mulheres sem leite, como pensam. Poucas mães deixam de dar o peito porque querem. A maioria fa-lo "porque o leite secou", "porque o bebé ficava com fome", "porque o leite nao era bom". Nao é possível que metade ou um terço das mulheres não tenham leite, não é possível que as suas mamas não funcionem. Se fosse verdade, estaríamos perante a mais terrível epidemia que a humanidade viveu.

A hipogalactia -escassez de leite- deveria ser uma doença tão rara como qualquer outra, digamos como a diabetes ou a hipertensão. Bem visto, devería ser muito mais rara. 
Por uma parte, a seleção natural não actua contra a hipertensão. Uma mulher hipertensa pode ter tantos filhos vivos como uma mulher com a tensão normal. Ao contrário, a selecao natural é implacável com a hipogalactia: se a mãe nao tem leite, seus filhos morrem, salvo que sejam adoptados e/ou amamentados por outra fêmea - o que é enormemente raro na natureza - Há 100 anos apenas é que os bebés sobrivem sem leite materno.
Para saber se não tem leite, primeiro é necessário um bebé, uma mulher com idade fértil (em teoria entre os 18 e 40 anos) suficientemente saudável de corpo e de mente para ficar grávida e dar a luz...Estamos falando de mulheres com uma excelente saúde. E é muito azar que justamente o peito nao lhes funcione. Pode ocorrer, é certo, mas é muito raro.. Tanto que há de descartar primeiro todas as demais possibilidades.
O problema é que a nossa sociedade nao confia na lactância. Chegamos a pensar que a norma é nao ter leite e que se alguma tem, é só por si a mais extraordinária das coincidências.
Quando se pergunta a uma grávida quanto tempo pensa em dar o peito, raramente se responde algo concreto, “três meses”? “ano e meio?”. Muitas vezes dizem: “enquanto possa”, “ enquanto tenha leite”, nao acreditam que dependa delas, que se possa tomar a decisão e levá-la à prática. Acreditam que sao um brinquedo do destino. 
Quando uma mulher dá de mamar, às vezes surgem perguntas: “como consegues?”, “Explica-me como se faz”, ”eu também quero dar o peito à minha filha”. Ao contrário: “que sorte! Tens leite!”, " Oxalá eu tivesse tido leite também". A insegurança é tao grande que, passe o que passar, a mãe costuma pensar que não tem leite. Se o peito está vazio é “porque não tem leite”, ou se está cheio é porque "o bebé nao mama” e  porque o “leite deve ser mau”. Se o bebé pede o peito com muita frequência, é porque “está passando fome”, mas se dorme muito é porque “como nao sai nada...”. Se engorda pouco é que “necessita de leite adaptado”, mas se engorda muito “nao terá a ver com o peito”. Os peitos pequenos “nao servem”, mas os grandes, também não. Se a mãe foi criada com biberão, “é que em minha família nao temos leite”, mas se a avó ou a bisavó amamentaram sete filhos: “oxajá eu tivesse leite como minha avó, que depois de dar o peito aos seus sete filhos, adotou uma órfão durante a guerra e lhe deu também.”. Em conclusao, não existe nenhuma circustância que faça exclamar às maes: Tenho muito leite.

A imensa maioria das vezes, quando a mãe acredita que não tem leite, na realidade nao existe nenhum problema. Estatisticamente, é mais provável ganhar a lotaría que ter hipogalactia. Nem os peitos murchos, nem o bebé que se desperta pela noite, nem o aumento de peso que alguém comentou que é pouco mas na realidade é normal, nem o que não aguanta três horas, indicam falta de leite. 
Para crer que possa existir um problema com o leite, têm que existir três critérios:
1.O bebé não engorda mesmo.
2.Depois de tentar ordenhar leite durante vários dias, com uma bom técnica e várias vezes ao dia, a mãe nao consegue ordenhar leite.
3.Ao dar complemento, o bebé engorda mais que antes.
Se o bebé engorda normalmente, é porque está a beber leite suficiente, e ponto final. Se o bebé não engorda, mas a mae ordenha leite e o bebé nao o toma, é possível que o bebé esteja doente, mas não há hipogalactia.

Fonte: GONZÁLEZ, C. (2009). Comer, Amar, Mamar. Madrid: Temasdehoy, p.369-371.

Hipogactia verdadeira (ter pouco ou nenhum leite)
Apesar das constantes queixas das mães a respeito da quantidade de leite que produzem, a hipogalactia (baixa ou nenhuma produção) é uma situação que afeta raras mulheres.
Os problemas que podem gerar essa verdadeiramente baixa ou nenhuma produção de leite são os seguintes:
1) Hipotiroidismo
O tratamento adequado resolve o problema.
2) Retenção de placenta
Com a expulsão da placenta, a produção se normaliza.
3) Agenesia do tecido mamário
Rara atrofia das mamas. Não impede a amamentação, mas a produção é baixa.
4) Cirurgia de redução mamária
Há mães que conseguem amamentar, outras não, outras conseguem com complementação.
5) Síndrome de Sheehan
Necrose da hipófise. A mulher não produz leite.
6) Déficit congênito de prolactina
Ausência do hormônio produtor de leite. Doença raríssima.
7) Desnutrição grave
O estado de desnutrição pode levar à diminuição da produção de leite.

Fonte: GONZÁLEZ, Carlos. Un regalo para toda la vida – Guía de la lactancia materna. Madrid: Temas de Hoy, 2006.

9 comentários:

  1. Muito bom o texto! Mas ainda sei de um caso de uma mãe que teve o seu filho num hospital particular e as próprias enfermeiras deram suplemento ao bebé, intercalando com a amamentação e sem incentivar a mãe a amamentar, porque o bebé tinha os níveis de açúcar no limite inferior e o leite dela não era suficiente! Escusado será dizer que a mãe deixou de amamentar pouco tempo depois. São aqueles casos que nos deixam de boca aberta.

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  2. exacto. Tive muitas amigas que no plano de parto proibiram de dar o que quer que fosse ao bebé sem ser o leite dela.

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  3. No meu caso particular, a minha filha mais velha de 4 anos no inicio teve de tomar suplemento por essas mesmas razoes, mas principalmente pq ela nao bebia leite suficiente. no entanto dei suplemento no primeiro mês de vida mas nunca desisiti da amamentação. O que é facto é que nos entretanto tive outra gravidez que não me impediu de continuar a amamentar e o meu mais pequeno que tem 28 meses continua a mamar. ;)

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  4. eu no início também dei LA por pressão dos demais familiares que achavam que a Catarina não se parecia suficientemente com um leitão.
    Às tantas chateei-me, vi que estava a ficar com menos leite (obviamente) e passei a dar só LM. Nos primeiros dias ela estava na mama de 2 em 2 horas, toda a gente me criticou, diziam que tinha fome porque não aguentava as 3horas, bla, bla, bla, mas o que é certo é que acreditei em mim e nela, levei a nossa avante e ao fim de uma semana calei toda a gente! 360gramas numa semana (ela devia ter um mês e pouco).
    Tudo bem que não há mal nenhum em dar LA quando há necessidade, mas odeio que a maior parte do mundo insista e pressione as mulheres para confiarem numa lata em vez de no seu corpo, criado para alimentar uma criança.
    Toda a gente diz "se eu tiver leite". Claro que temos! E é o melhor do mundo para o nosso bebé.
    Li há umas semnas um artigo interessantíssimo sobre como o nosso corpo, através do toque, orienta as propriedades nutritivas do nosso leite para se adaptar às necessidades particulares do nosso bebé. É fantástico! Vou ver se encontro novamente para postar aqui no blogue.

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  5. Quando meu filho nasceu eu não tinha leite os médicos mandaram vir comigo pk pensavam que eu tava a gozar que não queria dar leite para não estragar o peito.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Também não consegui amamentar meus filhos (Tiago de 16 anos e Talyta hoje com 1 ano e 2 dias)… Não diagnosticaram a causa, talvez por falta de informação e por terem certeza de que o corpo feminino já nasce equipado para isso quando nos tornamos mães. De fato aprendi que não é bem assim e foi doloroso saber que o meu corpo não podia oferecer o essencial para meus filhos. Meu relato esta aqui: https://faceemelanina.wordpress.com/2015/11/27/aleitamento-materno-o-outro-lado-da-moeda/

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  8. Tenho muita pena Veronika, mas não será decerto influente no crescimento saudável deles e muito menos na mae que é e no amor que lhes tem! ;)
    Nos fazemos tudo por eles.
    Muitas felicidades!!

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  9. Tenho muita pena Veronika, mas não será decerto influente no crescimento saudável deles e muito menos na mae que é e no amor que lhes tem! ;)
    Nos fazemos tudo por eles.
    Muitas felicidades!!

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